sábado, 13 de outubro de 2007

obstrução #1

Acordo ressacado. Como e fumo. Tomo banho. Recebo uma mensagem do Rogério a pedir-me um cd com o meu trabalho. Não tenho tempo e saio para me reunir. Ao subir a rua do Alecrim tiro uma fotografia ao que restou de um cartaz meu que alguém rasgou. Chego ao Royale em ponto, o Rogério está com a Maria, espero e assisto à reunião deles. Depois começa a nossa. Começa-se por datas e questões técnicas. A Ana já me tinha dito que o meu blog é misterioso e um pouco impessoal. Que só o entende quem está dentro do contexto. O Rogério Curador disse mais ou menos o mesmo, que ser misterioso não é errado mas não é dogmático. Que a questão não será legendar elemento a elemento mas esclarecer a coisa no todo. E também que tenho de ir mais longe. Que o meu projecto se vai transformar em algo monstruoso, que vai haver uma viragem ou ruptura ou acontecimento que mudará o rumo da coisa. Falei da falta de sentido de apresentar o meu trabalho num espaço de galeria. De pendurar coisas na parede. Da dificuldade em acreditar que isto pode ser uma coisa certa. Vou pensando que continuo a ritualizar um drama e que na ocorrência de outro preferia não ter que o fazer. Continuo a pensar que me precipitei em aceitar o convite do Rogério para a oportunidade do espectador, prolongo uma situação que me faz sofrer porque recorro constantemente a memórias, mas onde também encontro conforto pela compensação neurótica de ter pena de mim. E provavelmente é mesmo só isso que eu sempre fiz. Ao descer a rua do alecrim de volta a casa um homem bem vestido e muito educado pede-me dinheiro para comer uma sopa. Subo 120 degraus e a primeira coisa que faço é escrever este texto directamente no blog, que o Rogério me pediu em jeito de obstrução, e onde continuo a não dizer muito e que abandono porque estou cheio de fome.

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