(texto que me acompanhou na performance realizada no Workshop “vou a tua casa“ , realizada no CEM em 3 de Agosto de 2007 em jeito de esclarecimento a pedido do Rogério Nuno Costa)
Começo por registar a saída da casa que partilhámos. Fotografo metodicamente todo o processo, os objectos, o antes e o depois, as malas, as caixas, o que se vê da janela, a mudança, a viagem, as minhas coisas na garagem da minha mãe. E escrevo, muito.
Este registo tornou a situação mais real.
Porque me exponho?
A origem está na ruptura de uma relação. O que me levou à exposição foi uma falha na comunicação. Falo da ruptura com muitas pessoas mas não falo com quem a provocou.
Percebo que estou a ritualizar uma situação à qual não consigo reagir. Para não paralizar tento rodear-me de amigos, invento rotinas, faço e publico.
Tento perceber o que faço e porquê. Vou perguntando e obtenho mais perguntas que me fazem perceber algumas coisas.
Percebo que em miúdo queria ser um artista (4 anos, confirmado pela minha mãe). Percebo que a relação que tinha preenchia isso. Projectei-me no outro. O outro fazia por mim e, o pouco que eu fazia, era para o outro. Não tendo onde me projectar decido fazer e expor.
Empenho-me e quando termino(?) fico realizado. Sinto-me melhor ou, pelo menos, vivo.
A ter um objectivo será sentir-me vivo, sentir-me melhor.
Vou publicando num blog que já tinha e, a partir de um dado momento, pareceu-me fazer sentido mudar-lhe o nome. Decido começar um novo.
Começo a procurar coisas que tinha feito, tento organizar-me.
Assumo que sou um autor a expor. Uma espécie de tentativa, em parte por me sentir perdido vocacionalmente, em parte por sugestão de várias pessoas.
Escrevo e faço coisas que para além de pessoais expõem a privacidade de outros. Tenho pudor e selecciono o que publico. Há portanto consciência que outros, e em particular quem causou a ruptura, possam ver o que publico, pinto e colo nas paredes da rua.
Exponho-me para mim, para os meus amigos, para quem não conheço e para o outro.
Esta exposição é uma tentativa de comunicação. Pergunto quem sou, peço ajuda e compreensão, ou piedade. Mostro a todos que sou igual a todos. E tento ter uma conversa com o outro.
E, quando termino este texto, percebo que o meu primeiro objectivo é terapêutico. Faz-me bem fazer.
Também foi objectivo não deixar morrer o amor, agora é ultrapassá-lo.
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