segunda-feira, 3 de setembro de 2007
paul wood
mark rothko / on kawara
[...] pouco mais nos resta que fazer eco da pretensão de Michael Fried a respeito da pintura modernista: se alguém não considerar os seus "quadros soberbos", então "não há argumentos críticos passíveis de substituirem o acto de a sentir". O que significa estarmos convictos do significado de uma série infindável de números, de uma parede cheia de livros fechados que sabemos nada mais conter que datas, ou de uma série minuciosamente diferenciada de telas, representa uma questão pertinente. A haver uma resposta, talvez resida no domínio das nossas respostas ao sublime, a percepção do nosso carácter limitado face ao ilimitado, ao oceânico; assim como numa certa humildade quando uma ronda diária mais ou menos frenética, mais ou menos trivial, nos coloca perante a quietude de um sentido monástico de devoção, tornado apenas mais inacessível pela ausência total de uma qualquer divindade legitimadora. Inversamente, o que é evocado pode também ser consideradocomo como uma espácie de anti-sublime: algo parecido com o afã do trabalho de uma linha de montagem, um ciclo infinito de produção enquanto produção. Que é isso de centrarmos a nossa vida em torno de tal forma de produção, á primeira vista sem significado, aparentemente vazia, em última análise tautológica, o significante que se nomeia a si próprio (tal como a própria vida)? Quer encaremos a obra destes artistas como próxima de uma espécie de sacrifício ou um tipo de sentença de vida auto-imposta: como se se tratasse do confronto entre a passividade do tipo de budismo zen e a loucura capitalista esvaziada de sentido, a questão permanece em aberto.
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